
Para
Fanon, as pessoas tem uma tendência natural à relutância, ao passo que, se o
parafrasearmos, possuem uma tendência "naturalizada" a ser líderes e
a dominar, em oposição factual, de às vezes, serem dirigidas, dominadas e
deixar-se alienar.
É
facilmente inteligível, que as conquistas burguesas, ao longo da história, têm
precedentes em duas faces distintas e interconectadas: para exemplificar o
resultado de perda ou vitória entre dominador e dominado, uso a metáfora, de
dois lutadores de boxe sem os códigos de ética do jogo, um deles (de aspecto
fraco) vence o oponente (de aspecto forte) e o deixa caído no chão; a atitude
do vencedor é um tanto de cortesia, ao passo que, já vencedor, tenta ajudar seu
amigo (ou oponente) a se levantar. É nessa parte da luta que jaze um segredo
reflexivo de relações mútuas. O fato de o oponente estar caído no chão pode
pressupor que ele está vencido, e é obvio em um primeiro momento; mas nada
impede que de maneira dissimulada, ele esteja fingindo estar vencido, para no
momento oportuno dar seu golpe fatal.
As
lutas de classes tem sido motivos de grandes conquistas e fracassos ao longo
dos tempos. Mas o que quero enfaticamente, e até com um caráter sintético é
extrair as duas faces da situação: apesar de vencedor, a aproximação com o
oponente deve ser sob medida.
Assim,
NAS LUTAS SOCIAIS, onde as classes menos favorecidas apenas gozam de algumas
ações do governo pelas lutas incansáveis, os sangues derramados e as
incessantes cobranças (isto é óbvio), PERMANECE um agravo interno, que
desfavorece a emancipação e a vitória verdadeira dos povos proletários,
trabalhadores rurais, sindicalistas etc. (para fazer referência ao lutador de
caráter mais fraco); ao passo que FAVORECE a supremacia e hegemonia do outro
lado da luta: os dominadores e os opressores ( para fazer referencia ao lutador
de caráter forte).
Com
esses exemplos, entendo que, duas forças precedentes, não naturais, porém
naturalizadas, garantem o sucesso das classes dominantes: de um lado está todas
as estratégias de dominação, e a posse hereditária do poder, na iniciativa
pública e na iniciativa privada, ou na convergência de ambas. De outro lado
está a classe dominada, não totalmente organizada, onde as forças midiáticas
dissimuladas e as estratégias neolinguísticas e discursivas contribuem para o
SURGIMENTO DE PESSOAS, das classes desfavorecidas, que se deixam alienar-se (às
vezes de maneira consciente), e praticam as mesmas ações do dominador. Tais
pessoas são usadas como massa de manobra, para minar a organização da sociedade
civil.
Em
síntese, não é por causa do aspecto forte do nosso oponente nem é por causa do
aspecto fraco das classes pobres, proletárias e trabalhadoras rurais que não
temos uma sociedade mais justa, partilhada, progressista, segura, produtiva e
emancipada, (vencedora), é INDISCUTIVELMENTE por causa do apego e da
alienação aos costumes do dominador, por parte de alguns dos dominados, uma
arma voluntária (um gol contra) dentro do processo de luta de classes.
Isaque de Freitas