Pesquisar este blog

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Dilma opta por 'balancear' equipe para evitar atritos

Disposta a evitar novas brigas com a base aliada logo no início do ano eleitoral de 2012, a presidente Dilma Rousseff planeja agora uma reforma ministerial mais modesta, chamada no Palácio do Planalto de 'balanceamento' da equipe. A ideia é conter o desgaste político na Esplanada sem promover mudanças bruscas, nem desalojar partidos que compõem a coalizão, nessa temporada de sucessão municipal.
Depois de perder seis ministros alvejados por denúncias de corrupção e um por incompatibilidade política, Dilma quer mexer menos em nomes e mais na gestão do governo, ao menos por enquanto. Antes de sair de férias, na sexta-feira, ela deu aos auxiliares a seguinte ordem: 'Não fiquem especulando sobre a reforma porque não quero que este seja o assunto do recesso'.
A cúpula do PR pediu a Dilma para trocar o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, que assumiu o posto com a queda de Alfredo Nascimento, em julho. O partido alega ter sido o único a não indicar o sucessor do ministro defenestrado e exige a substituição de Passos para se reintegrar à base aliada. Uma ala quer emplacar o deputado Luciano Castro (RR) e outra, Milton Monti (SP). Por ora, Dilma resiste.
Embora a presidente não tenha definido o formato final da equipe, o PSB do governador do Ceará, Cid Gomes, tem chance de retomar o Ministério da Ciência e Tecnologia. O titular, Aloizio Mercadante, vai a para Educação, no lugar de Fernando Haddad (PT), que deixará o governo em janeiro para fazer campanha pela Prefeitura de São Paulo.
Latifúndio. Em conversas reservadas, a presidente avaliou que o PSB terá de abrir mão ou da Secretaria dos Portos ou do Ministério da Integração Nacional, se quiser reconquistar Ciência e Tecnologia. Apesar de interessada em afagar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos - presidente do PSB e possível candidato ao Planalto, em 2014 -, Dilma avalia que os socialistas não podem ocupar um latifúndio.
No cenário de hoje, é dado como certo o rearranjo de apenas 5 das 38 pastas na Esplanada, mas essa configuração pode mudar, se incluir Transportes. Além de Haddad e Mercadante, devem ser trocados Mário Negromonte (Cidades), Iriny Lopes (Mulheres), que quer disputar a Prefeitura de Vitória, e Paulo Roberto Pinto, interino no Trabalho.
Outro capítulo curioso refere-se ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. Filiado ao PSB, ele mudou o título eleitoral de Petrolina para Recife, a pedido do governador, mas só disputará a Prefeitura em último caso. Os socialistas preferem repetir a parceria com o PT, desde que o candidato não seja o prefeito, João da Costa.
Cidades. A troca em Cidades é tida como 'favas contadas' no Planalto. Para Dilma, Negromonte não correspondeu às expectativas e pecou pela ineficiência. Alvo de denúncias, ele perdeu o apoio da maioria da bancada do PP na Câmara.
Diante da mudança iminente, PT e PMDB se assanham para assumir o poderoso ministério. Na seara petista, dois grupos paulistas estão de olho na cadeira: um apadrinha o deputado José Di Filippi Junior, ex-tesoureiro da campanha de Dilma, e outro, a senadora Marta Suplicy.
Nos bastidores do Planalto, o comentário é que será difícil o PT ganhar mais cargos, pois já comanda 17 pastas. Além disso, o PT de São Paulo manteve-se à frente da Educação com a escolha de Mercadante. Apesar das negativas de Dilma, há estudos em andamento sobre a conveniência de unir Portos e Transportes, Pesca e Agricultura, e Trabalho e Previdência.
É provável que Trabalho siga sob o comando do PDT. Dilma chegou a considerar a possibilidade de transferir a sigla para outra pasta, mas ainda avalia o assunto. Está contrariada com a pressão do PT e da CUT, que gostariam de abocanhar novamente Trabalho. Nas fileiras do PDT, dois deputados próximos a Dilma são cotados para o ministério: Brizola Neto (RJ) e Vieira da Cunha (RS).
 
Por VERA ROSA / BRASÍLIA, estadao.com.br, Atualizado: 27/12/2011 3:05

domingo, 4 de dezembro de 2011

MARKETING E PRODUÇÃO: AMPLIANDO O CONCEITO DO PRODUTO ATRAVÉS DOS SERVIÇOS PÓS-VENDA

 MARKETING E PRODUÇÃO: AMPLIANDO O CONCEITO DO
PRODUTO ATRAVÉS DOS SERVIÇOS PÓS-VENDA
Cláudia Buhamra Abreu
Universidade Federal do Ceará
Rua Leonardo Mota, 2632 Fortaleza-CE CEP: 60170-041 FoneFax: (085) 272-6314
Summary
Traditionally, the companies have negleted the after-sales services. They have been
worried about the activities before the sale of the products (planning and production), and
with the sale itself.
Nowadays, this point of view is changing. More attention must be given to the
marketing of relationship - the aftermarketing - centered in the services that can be offered
to the consumer after sale, as a complement of the product and as an excelent strategy of
differenciation of the competition. More than attract, the worry of the companies now must
be to maintain customers through after-sales services.
But the concept and the importance of the after-sales marketing wasn’t completely
internalized by the majority of brasilian companies yet. It is far the sense between
producers and buyers, after sale. And the PROCON annual report confirms this reality.
Key-Words
Product, after-sale, service.
1. INTRODUÇÃO
As pessoas não compram produtos, compram soluções para seus problemas. Essa
afirmação nos leva ao conceito de ampliação do produto, ou seja, um produto não pode
ser considerado apenas a coisa em si mas tudo o mais que ele representa em termos de
garantia, confiabilidade, imagem de marca, imagem do fabricante, assistência técnica, e
todas as facilidades que podem ser criadas para diferenciá-lo da concorrência.
Mas afinal, o que é um produto?
Kotler (1993) afirma que “é qualquer coisa que pode ser oferecida a um mercado
para aquisição, utilização ou consumo e que pode satisfazer a um desejo ou necessidade,
incluindo objetos físicos, serviços, pessoas, locais, organizações e idéias”.
Ampliando esse conceito, o Prof. McCarthy (1978) afirma que “o produto total é
mais do que o objeto físico, no que se refere às características funcionais e estéticas. Inclui
acessórios, instalações, instruções sobre uso, embalagem, talvez um nome que tenha
relação com algumas necessidades psicológicas, e a certeza de que estarão disponíveis os
serviços de assistência técnica indispensáveis para que as necessidades do consumidor
mantenham-se satisfeitas após a compra”.
E é exatamente nos serviços pós-compra, ou pós-venda, que focalizaremos nosso
trabalho. Mas como se inserem os serviços pós-venda no conceito do produto?
Na verdade, os serviços disponíveis ao consumidor após a compra são parte do
próprio produto. Para os autores, o produto tem vários níveis diferentes, quatro deles foram
selecionados para nossa análise, como pode ser visto na figura abaixo. Primeiro, o nível
básico, aquele em que o produto é visto pelo seu benefício básico, ou seja, geladeiras
gelam, canetas escrevem e ventiladores ventam. Esse nível acessa o consumidor na sua
dimensão genérica, na qual os produto são identificados a partir da sua funcionalidade, sem
distinção entre marcas ou fabricantes.
No segundo nível, está o produto tangível. Aqui são utilizadas formas de
concretizar a imagem do produto na mente do consumidor, tais como, a marca, o design, a
embalagem, o estilo e todos os instrumentos de diferenciação do produto no mercado. Esse
nível de produto acessa o consumidor na sua dimensão sensorial, naquilo que ele percebe
através dos seus sentidos e seus valores.
No terceiro nível está o produto ampliado, incluindo todos os serviços adicionais
que podem ser oferecidos ao consumidor para que prefira o seu produto e não o do
concorrente. As formas mais comuns de se ampliar um produto são entregas a domicílio,
vendas por telefone, garantias, crédito e serviços pós-venda, como instalação e assistência
técnica. Esse nível de produto relaciona-se à dimensão adicional do cliente, pois ele
percebe que algo a mais lhe está sendo oferecido, e isso conta muitos pontos na sua
preferência.
Finalmente, o nível do produto potencial, relacionado à dimensão potencial do
cliente. Aqui está tudo aquilo que ainda pode vir a ser feito pelo cliente mas que ainda não
existe de fato. É o desafio cotidiano que o mercado impõe às organizações no sentido de
serem criativas na conquista e manutenção de clientes.
2. O RETRATO DOS SERVIÇOS PÓS-VENDA NO BRASIL
Quem não tem uma história de decepção com serviços pós-venda prá contar? Quem
ainda não pronunciou a frase: “Na hora de vender, prometem tudo; depois...” ?
O PROCON, principal entidade de defesa do consumidor ligada à Secretaria
Estadual de Justiça e Cidadania de São Paulo, recebeu 300.000 reclamações no ano de
1996. Isso dá uma média de 25.000 casos por mês (Folha de SP, 29/01/97). São brigas
contra fabricantes de produtos e serviços, públicos e privados, e sempre depois da compra.
Veja no gráfico abaixo as reclamações de 1996, distribuídas por área.
Se por um lado esses dados demonstram que o consumidor brasileiro não está tão
passivo na defesa de seus direitos, por outro demonstram que as empresas brasileiras, na
sua maioria, não estão muito preocupadas em atender as expectativas dos seus
consumidores depois que esses adquirem seus produtos. Para elas, o que acontece depois
da compra não merece tanta atenção.
O marketing de conquista e promoção continua dominando, enquanto atividades de
serviços são subempregadas, colocadas em níveis inferiores, vistas estritamente como
centros de custos e tidas como secundárias na estratégia empresarial competitiva. “À
medida que amadurecemos em uma sociedade mais móvel, industrializada e tecnocrática,
surge uma distinção entre a venda e as atividades pós-venda... Relegamos a segunda
metade da venda a departamentos de reclamações, de serviços e de garantias” (VAVRA,
1993).
O que os empresários parecem não perceber é que são exatamente os serviços, o
grande diferencial de um negócio. A diferenciação de produtos e empresas na mente do
consumidor é geralmente fraca. Os serviços é que são lembrados e comentados, sejam eles
bons ou ruins. As imagens positivas de confiança, familiaridade e bons serviços é que
determinam a preferência do consumidor.
Algumas empresas já têm programas formais destinados a realçar as relações com
seus clientes, disponibilizando até linhas gratuitas 0800 como canal de expressão do
cliente. Nesses programas de telemarketing, elas podem agir de forma ativa ou receptiva.
Nos programas em que a empresa participa ativamente, ela busca seu cliente, antes que
este o faça, para saber o seu nível de satisfação com o produto adquirido ou o serviço
contratado. Nesse caso, a empresa costuma ter um padrão mais eficaz de serviço pós-venda
e até encanta mais o cliente. As que atuam de forma receptiva, ficam esperando as
chamadas dos clientes. Essa modalidade, embora seja a mais usada, exige da empresa
muita habilidade na recepção das mensagens e nas soluções dos problemas, o que às vezes
não ocorre.
Um outro fator que requer das empresas fabricantes maior atenção na administração
dos serviços após a venda dos seus produtos é a multiplicação dos canais de distribuição e,
principalmente, dos intermediários. À medida que cresce a distância entre o fornecedor e o
cliente final, o controle das empresas produtoras sobre as condições de venda de seus
produtos e da oferta do serviço pós-venda diminui. Os fabricantes mais atentos
movimentam-se em direção a seus usuários finais, mas, na maioria das vezes, essa
distância permite aos fabricantes menos market-oriented diminuírem seu sentimento de
obrigação em relação aos seus clientes, bem como justificar psicologicamente a maneira
como eles são (mal) tratados.
Levitt (1985) afirma que vender é manter um relacionamento. E é preciso atenção
especial ao que caracteriza singularmente um relacionamento: o tempo. A esse respeito, a
teoria econômica de “oferta e procura” é totalmente falsa. Ela presume que o trabalho do
sistema econômico pouco depende do tempo e ignora as interações humanas - uma
transação de vendas instantânea, isolada, que se consuma na interseção de oferta e
demanda. Isso nunca foi assim. E o é cada vez menos à medida que se intensificam a
complexidade crescente do produto e as interdependências das instituições do sistema
industrial.
Um cliente satisfeito gera muitos novos clientes. Da mesma forma, um cliente
insatisfeito tira da empresa clientes potenciais e, em alguns, casos, já efetivos. Deve-se,
portanto, aumentar os esforços da companhia para os clientes existentes. Eles demonstram
alto grau de lealdade quando compram pela segunda vez, por nenhuma outra razão maior
do familiaridade e prazer (Coopers & Lybrand 1992).
3. O MARKETING PÓS-VENDA
Quando a organização objetiva, principalmente, a conquista de novos clientes, os
clientes atuais, freqüentemente são negligenciados. Assume-se que o apoio ou patrocínio
dos clientes atuais permanece. Seu valor para a empresa é esquecido; sua contribuição para
o lucro é dada como certa. Presume-se que sua satisfação continua. A organização falha em
sua manutenção. E quando esses clientes deixam de ser fiéis, suas mudanças de preferência
são justificadas racionalmente pela empresa: “não podemos agradar a todos” (VAVRA,
1993).
Essa, no entanto, é uma visão míope da realidade. Estudos econômicos mostram
que o valor de um cliente para uma empresa aumenta e seus custos caem durante a sua
permanência com ela. À medida que as compras de um cliente aumentam, os custos
operacionais da empresa declinam. Assim que a empresa ganha mais confiança no cliente
deve passar a atendê-lo melhor. No decorrer do tempo, à medida que o cliente começa a
confiar nos serviços que recebe, fica mais disposto a comprar na empresa, evitando
comprar em outros locais com características e políticas desconhecidas.
Existem, ainda, outros benefícios menos concretos de se manter clientes. Por
exemplo, eles proporcionam propaganda gratuita. A comunicação boca a boca, muitas
vezes, é mais eficaz do que a propaganda paga. Por todas essas razões a luta da empresa
deve ser não apenas aumentar o número de clientes mas aumentar as vendas por clientes
pois o valor real de um cliente permanece durante toda sua vida com a empresa.
O cuidado e a atenção da empresa em manter seus clientes é hoje denominado after
marketing (marketing pós-venda) ou marketing de relacionamento porque aplica
princípios de marketing aos clientes após eles terem comprado bens ou serviços de uma
empresa.
O marketing pós-venda tem como objetivos (VAVRA, 1993):
ð manter clientes satisfeitos após a compra.
ð aumentar a probabilidade de os clientes atuais comprarem novamente o produto ou a
marca da mesma empresa em futuras ocasiões.
ð aumentar a probabilidade de que os clientes atuais comprarão outros produtos da mesma
empresa (um produto ou linha de produtos complementares) em vez de procurarem um
concorrentes quando necessitarem de tais produtos.
ð reconhecimento dos clientes como indivíduos
ð deixar os clientes conscientes de que estão sendo bem cuidados.
Para atingir esses objetivos, o marketing pós-venda é manifestado em muitas
diferentes atividades de marketing, todas elas enfocadas em clientes atuais (VAVRA,
1993):
ð identificação da base de clientes
ð pesquisa para conhecimento de suas necessidades e expectativas
ð mensuração repetida da extensão da satisfação dos clientes pelos produtos ou serviços
atuais.
ð fornecimento de canais de comunicação amplos
ð demonstração ativa de sentimentos de reconhecimento a eles.
Berry & Parassuraman (1992) chamam os serviços pós-venda gerados por
reclamações de clientes de situações de recuperação do serviço e afirmam que são
oportunidades de ouro para exceder as expectativas dos clientes. “Thomas R. Elsman,
administrador de planejamento estratégico da divisão de serviço para o cliente da DuPont,
explica isso muito bem: ‘Conforme forem surgindo as emergências e as queixas, trate-as
com empatia e determinação, pois um serviço notável nessa área será encarado como o
quilômetro extra e pode transformar uma coisa negativa em positiva’. Mesmo assim,
muitas empresas estão mal equipadas para serem excelentes na recuperação do serviço”.
A recuperação do serviço é um momento que exige da empresa muita dedicação,
principalmente porque, em geral, os clientes tendem a ter maiores expectativas e menos
tolerância durante a recuperação do serviço do que durante os serviços de rotina.
“Sua próxima venda, próxima idéia, próximo sucesso dependem muito dos seus
relacionamentos externos. Um bom relacionamento é um ativo importante. Podemos
investir em relacionamentos e nos servir deles. Fazemos tudo isso, porém raramente o
percebemos e quase nunca administramos o relacionamento. E, no entanto, o bem mais
precioso de uma empresa está em suas relações. Não se trata de quem você conhece, mas
como você é conhecido deles. Esta é uma função da natureza do seu relacionamento com
eles, e depende de como esse relacionamento foi administrado”(LEVITT, 1985).
4. ORIENTANDO A EMPRESA PARA UM RELACIONAMENTO PÓS-VENDA
O professor Theodore Levitt (1985), analisando a administração do relacionamento
entre fabricante e consumidor faz uma analogia interessante. Para ele, a venda consuma o
namoro. Depois começa o casamento. O quanto o casamento tem de bom depende do quão
bem o relacionamento é administrado pela empresa. Isso determina se haverá negócios
continuados e se serão expandidos, ou haverá problemas e divórcio. Em outras palavras, se
aumentam os custos ou os lucros. Em alguns casos o divórcio é impossível, como quando
uma grande obra de construção ou instalação está em andamento. O que resta é um
casamento cheio de encargos e caro, que macula a reputação do fabricante e do vendedor.
As empresas podem evitar problemas e realçar sua posição reconhecendo, logo de início, a
necessidade de administrar seu relacionamento com os clientes. Para o vendedor, a venda é
o fim de um processo, para o comprador é o início. Essa visão exige da empresa nova
orientação e nova estratégia. O marketing tradicional, por si só, já não é suficiente.
A estratégia de serviços pode ser considerada a essência de uma estratégia de
diferenciação de produtos. Mas para ser bem sucedida é preciso que ela esteja incluída na
cultura da organização. O treinamento contínuo é importante para proporcionar a cultura e
as habilidades necessárias para que todos os esforços da organização sejam customer
focused. Os funcionários devem aprender porque é importante mudar e como reconhecer a
excelência dos serviços. O treinamento deve ocorrer em todos os níveis e para todas as
funções da empresa e prover um conhecimento detalhado das necessidades dos clientes
(MASON & MAYER, 1993).
Segundo Vavra (1993), algumas das razões mais comuns que levam os clientes a
abandonar uma empresa, são as seguintes:
q insatisfação com o produto, entrega, instalação, serviços ou preço. Mesmo que um
cliente aceite desculpa por atraso na entrega, embalagem inadequada, até por receber
produtos de qualidade inferior, é improvável que no mundo competitivo de hoje ele
permaneça leal em face das situações acima.
q dificuldade de lidar com reclamações. Essa é uma situação em que um único incidente
pode levar um cliente a abandonar a empresa. Se um cliente sente que sua reclamação foi
ignorada, minimizada ou mal solucionada, existem chances de que ele procure outro
fornecedor. Quaisquer desentendimentos com os vendedores aumenta, substancialmente a
possibilidade de se perder um cliente.
q desaprovação de mudanças. Os relacionamentos com clientes são vulneráveis a
qualquer mudança em preço, políticas ou vendedores. Alguns clientes podem ficar tão
irritados que param de comprar imediatamente.
q insatisfação com o tratamento. Freqüentemente, os clientes atuais não recebem a
atenção e cortesia que merecem. Sua familiaridade leva-os a serem tratados de maneira
imprópria (freqüentemente rude). Esse é um erro capital - todos os clientes devem ser
tratados com igual respeito.
q novos funcionários ou novas políticas da empresa. Mudanças na situação da empresa
pode romper seus relacionamento com o cliente, sem que ela tenha cometido qualquer
falha. A melhor defesa é ficar alerta a tais possibilidades e tentar antecipar e neutralizar
seus impactos.
Nenhum cliente, não importa sua fidelidade, está garantido além do último pedido
que assinou. O concorrente está sempre alerta e, às vezes, leva embora um cliente. A
empresa deve estar atenta, internalizar-se para reforçar seus pontos fortes e vencer seus
pontos fracos, mas sem nunca perder de vista o ambiente externo pois fora é onde estão as
coisas que não se pode mudar, inclusive os clientes, aqueles que pagam as contas e ditam
as regras.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O setor de serviços da economia não compreende apenas as chamadas empresas de
serviços, tais como bancos, companhias de aviação e firmas especializadas. Inclui, isto sim,
toda a abundância de serviços ligados a produtos, fornecidos pelas indústrias, e os serviços
ligados a vendas, fornecidos pelos varejistas . Portanto, o serviço ao cliente deve deixar de
ser arbitrário e passar a ser conscientemente tratado como fabricação no campo. Quando
isso ocorrer, ele será alvo da mesma atenção cuidadosa que a fabricação de produtos
recebe. Será cuidadosamente planejado, controlado, automatizado quando possível,
verificado no que diz respeito à qualidade e regularmente examinado para fins de melhora
de desempenho e observação das relações do freguês. E o que é mais importante, os
mesmos métodos tecnológicos e de economia de mão de obra que agora florescem nas
operações de produção começarão a ter oportunidades no serviço ao cliente e nas empresas
que vendem serviços (LEVITT, 1972).
Servir bem é mais do que atender bem. Atender bem é receber bem o cliente, é
deixá-lo à vontade para fazer suas queixas e reclamações. Servir bem é dar soluções
rápidas e ótimas aos problemas apresentados. É dispor de meios de fazer o cliente sentir-se
satisfeito, mesmo que, em alguns casos, tenha que esperar um pouco para ver seu problema
resolvido. Servir é oferecer serviços adequados às expectativas do cliente, pois são
expectativas, e não coisas, o que as pessoas compram. O objetivo é cumprir as expectativas
do cliente, de modo a ganhar sua lealdade e, dessa forma, a clientela continuada,
preferivelmente a um nível de satisfação que se refletirá em lucro acima da média.
Quanto mais tecnologicamente sofisticado for o produto (automóvel e computador,
por exemplo) mais suas vendas dependem da qualidade dos serviços que o acompanham. O
comprador de maquinaria automatizada, diferentemente do comprador no mercado de
miudezas, não vai para casa com sua compra a todo risco. Ele espera serviços de
instalação, auxílio nas aplicações, peças, reparos e manutenção no pós-compra,
desenvolvimentos posteriores e P&D da firma vendedora, como suporte às necessidades do
comprador de permanecer competitivo sob todos os aspectos (LEVITT, 1985).
É verdade que nem mesmo um bom serviço ao cliente será capaz de suprir
as falhas organizacionais de uma empresa inadequada aos desafios da atualidade, nem de
tornar bom um produto ruim. Mas não resta dúvida que um bom produto pode tornar-se
mais competitivo se for acompanhado de um bom serviço ao cliente.
BIBLIOGRAFIA
1- ALBRECHT, Karl. Revolução nos serviços: como as empresas podem
revolucionar a maneira de tratar os seus clientes. 3a. edição.Livraria Pioneira
Editora, São Paulo, 1992.
2- BERRY, Leonard L. & PARASURAMAN, A. Serviços de marketing -
competindo através da qualidade. Maltese-Norma, São Paulo, 1992.
3- COBRA, Marcos e RANGEL, Alexandre. O diferencial estratágico: a qualidade dos
serviços. Mercado Global, 3o trim. 92/No 87, ps. 16-18.
4- Coopers & Lybrand Deloitte. The discerning consumer - myth or reality. A study of
consumer behaviour and its strategic implications for Retail Financial Service.
Texto de Solutions for Business da London Business School. London, England,
1992, ps. 1-20.
5- _____________ Comprando Problemas. Veja, 5 de abril, 1995, ps. 92-93.
6- _____________Empresas minimizam queixas do PROCON. Jornal Folha de São
Paulo, 20 caderno - Folha Dinheiro, quarta-feira, 29/01/97, pág. 2-6.
7- _____________FIAT lidera reclamações no PROCON. Jornal Folha de São Paulo, 60
caderno - Sua Vez, domingo, 02/02/97, pág 6-2.
8- LEVITT, Theodore. Métodos de linha de produção aplicados ao fornecimento de
serviços, 1972. in: As idéias que revolucionaram a Administração - Prêmio
McKinsey Biblioteca de Administração de Empresas, Ed. Abril, São Paulo, 1972,
ps. 57-66.
9- LEVITT, Theodore. A imaginação de marketing. Atlas, São Paulo, 1985.
10-____________ Mudanças exigem cautela. Pequenas empresa grandes negócios.AnoV,
no 50, março/93, pg. 28.
11- PAULINA, Iracy. Este é o defensor número 1 dos consumidores. Veja SP, 1o de
setembro, 1993, ps. 10-13.
12- SCHNEIDER, Luciana. Convênios Médicos Lideram Reclamações. Jornal Folha de
São Paulo, 20 caderno - Folha Dinheiro, quarta-feira, 29/01/97, pág. 1.
13- VAVRA, Terry G. Marketing de Relacionamento - after marketing. Atlas, São
Paulo, 1993.

Cortadores de cana usam crack para suportar jornada de 14h


Relatório produzido pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas apresenta realidade das drogas no estado de São Paulo

23/09/11



Jorge Américo
Radioagência NP 


Durante visitas feitas aos municípios paulistas, deputados estaduais receberam denúncias de que usineiros estão incentivando o uso do crack entre os cortadores. O objetivo é aumentar a produtividade. Em muitos casos, o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar se estende por até 14 horas, sem interrupções.
Essa prática foi revelada pelo deputado Donisete Braga (PT), na apresentação de um relatório produzido pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, nesta terça-feira (20).
O relatório traz dados gerais sobre de consumidores da droga no estado. Os números indicam que jovens com idade entre 16 e 25 anos representam 57% dos usuários da droga em São Paulo.
Para Daniel Adolpho Assis, advogado do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA), a situação é resultado da disseminação do crack no interior e faixa litorânea do país. Ele acrescenta que os jovens são as maiores vítimas da superexploração do trabalho.
“Ainda não foi exterminado o trabalho forçado e o trabalho escravo propriamente dito no Brasil. Há muita gente que ainda morre por exaustão. Ou seja, por efeito negativo e danoso na saúde a partir da exploração do trabalho. O crack vem para anestesiar, sendo uma droga potente e extremamente aditiva, que causa dependência rapidamente.”
O crack é consumido no mesmo percentual que o álcool em municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes. Apenas 12% dessas localidades recebem recursos federais para programas de enfrentamento ao problema. Já os repasses estaduais chegam em apenas 5% dos municípios.
Uma pedra de crack pode ser comprada por até R$ 2. O uso crônico provoca perda de peso e aumenta o risco de infecções. O usuário pode apresentar quadros de psicose, agressividade, paranóia e alucinações.


Logística e terra fizeram Suzano Energia Renovável escolher o MA 30 de setembro de 2011 • 19h23 • atualizado 19h50

A disponibilidade de terras a um preço acessível e a questão logística foram decisivas para que o Maranhão fosse escolhido para sediar duas das três fábricas da primeira fase de implantação da Suzano Energia Renovável. As duas unidades serão independentes da fábrica de celulose que a controladora Suzano Papel e Celulose terá no Estado, segundo o presidente do braço de energia renovável, André Dorf.
As duas unidades estarão localizadas nos municípios de Urbano Santos ou Chapadinha, distantes de Imperatriz, onde será instalada a fábrica de celulose. O investimento previsto é de cerca de R$ 1 bilhão, entre a formação florestal e a parte industrial."Os motivos (para a escolha do Maranhão) são que a gente tem uma proximidade grande com o principal mercado consumidor, a Europa, a gente ganha uns cinco dias de navio, e tem a questão de disponibilidade de terras a um preço razoável", afirmou Dorf em entrevista à Reuters.A Suzano Energia Renovável vai atuar no mercado de biomassa para geração de energia por meio da produção pellets de madeira (pequenos pedaços de eucalipto) para exportação. Estão previstas inicialmente três unidades produtoras de 1 milhão de t de pellets por ano cada, a serem instaladas até 2014. A terceira unidade ainda não tem local definido, mas Dorf garante que ela também será construída no Nordeste.A empresa ainda não definiu como será a sua estrutura de capital, mas o objetivo é minimizar uma eventual necessidade de um aporte de recursos da controladora. "Estamos trabalhando em algumas alternativas. A gente está avaliando a possibilidade de trazer um sócio na operação", disse o presidente, que lembrou ainda da preocupação da Suzano Papel e Celulose com a sua alavancagem."A gente está avançando muito, já estamos negociando com fornecedores, frete marítimo", disse Dorf. A decisão de compra de equipamentos, entretanto, deve acontecer apenas em 2012. Ao contrário da fábrica de celulose, onde todo o transporte do insumo será feito por ferrovia, no caso das fábricas da Suzano Energia Renovável serão utilizadas rodovias para o transporte do produto final.A fábrica de celulose no Maranhão iniciará suas operações em novembro de 2013. Em 2011, os aportes nessa unidade serão de R$ 1,154 bilhão, parte de um orçamento da Suzano de R$ 3,5 bilhões para o atual exercício. Está prevista ainda uma unidade no Piauí, com início das operações esperado para o primeiro semestre de 2016.




TIPNIS: Lula e Evo.

Roberto Malvezzi (Gogó)
Evo perdeu. Lula perdeu. Perdeu o BNDES. Perdeu o Brasil.
Foi com perplexidade que simpatizantes do governo Evo Morales reagiram ao ataque violento do governo boliviano à marcha indígena contra a estrada que corta a reserva TIPNIS. Essa simpatia está em todo o mundo, não apenas dentro da Bolívia.
Porém, os brasileiros tiveram que pôr mais uma pulga atrás da orelha. Somos acusados pelos próprios marchantes de sermos os maiores interessados na estrada. Na verdade, ela atenderia mais aos interesses do agronegócio brasileiro da região Oeste, visando os portos do Pacífico. 
Financiada pelo BNDES, a obra teve Lula como lobista da OAS para convencer Evo. Poucos dias depois da visita a marcha começou. Agora, vencedor, o movimento se indigna contra o imperialismo brasileiro.
As nações indígenas, com suas tradições milenares, não se comportam politicamente pela cartilha marxista-leninista de tática e estratégia. Muito menos pelo oportunismo. Elas não fazem aliança hoje para descartar seus aliados no dia seguinte, conforme exigem as conveniências do poder. Ao contrário, o elemento chave em suas alianças é a confiança. E não se abandona um aliado por conveniência. E, uma vez traída, dificilmente essa confiança será restabelecida.
O que se viu na Bolívia foi a lógica da sabedoria milenar indígena, isto é, Evo tem que respeitar a aliança que o levou ao poder, não o povo respeitar os novos interesses de seu governo. O povo indígena foi para a rua e foi reprimido violentamente. O governo voltou atrás e pediu perdão, declarando TIPNIS intangível. Somente o futuro dirá se essa atitude vai ser suficiente para restabelecer a confiança mútua, ou se a história seguirá por outros rumos.
No Brasil o PT jogou fora aliados históricos, impõe seus projetos pela força, passa por cima de comunidades indígenas e quilombolas, vai para a América Latina e África impor os interesses imperiais de empresas brasileiras.  Lula tem sido o embaixador desse sub imperialismo do capital.
Depois de TIPNIS, quem sabe o governo brasileiro, além de  prejudicar Evo, aprenda a respeitar melhor os indígenas do próprio país.  Ou então, nos falta um levante como na Bolívia.





Dilma reage a intervenção da OEA em usina

DE BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff tem reprovado a posição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) de questionar a usina de Belo Monte, no rio Xingu, o maior empreendimento do setor elétrico da atualidade.
O Brasil foi convocado pela comissão a participar hoje de uma audiência em Washington sobre o não cumprimento de medidas cautelares de proteção das populações indígenas do Xingu. O governo anunciou que não enviará representantes. Além de não enviar emissários a Washington, a presidente determinou a retenção no Brasil de Rui Casais, embaixador que representa o Brasil no órgão. Ele está há seis meses no país, sem permissão para retomar suas funções. Dilma o chamou em abril, quando a comissão pediu a interrupção das obras de Belo Monte.
A Folha apurou que a presidente até já mandou o Ministério das Relações Exteriores encontrar um outro posto para Casais. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, reforçou o tom da presidente e afirmou ontem que o Brasil não se submeterá a intervenções externas. "O Brasil é um país soberano e faz as coisas direito", disse.




AGENCIA BRASIL 21/10/2011

Após protesto indígena, Ibama suspende audiência sobre construção de usina no Rio Teles Pires
Por Luana Lourenço

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) decidiu suspender as audiências públicas do processo de licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica São Manoel, no Rio Teles Pires (MT). As audiências estavam previstas para os dias 22, 23 e 25 deste mês.

A situação está tensa na região da usina depois que lideranças das etnias Kayabi, Apiacá e Munduruku decidiram manter como reféns dois funcionários da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e cinco representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) em protesto contra o aproveitamento hidrelétrico do rio e a demora na demarcação de terras indígenas das etnias.

A EPE pretende licitar a usina em leilão marcado para o dia 20 de dezembro. As audiências do Ibama deveriam discutir o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do empreendimento com as comunidades afetadas.


 Gilberto Carvalho diz que relação do governo com PCdoB continua ''sólida'' e ''fraterna''
  Por Luciana Lima
 
Ao se reunir com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, nessa quinta-feira no Palácio do Planalto, o ministro Gilberto Carvalho tranquilizou o presidente da legendo dizendo que a relação do governo com os comunistas continua "sólida" e "fraterna". "Não é uma crise como essa que vai abalar uma relação como essa", disse o ministro.

O PCdoB enfrenta uma crise após as denúncias que atingem o ministro do Esporte, Orlando Silva. Na reunião, que durou cerca de 40 minutos, também estiveram presentes as ministras Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, de Relações Institucionais. "O que fiz foi assegurar, asseverar que a relação do governo com o PCdoB continua sólida e fraterna", declarou Gilberto Carvalho.

O ministro disse ainda que o governo pretende tratar o tema com "cuidado e serenidade" e ponderou que o policial militar João Dias Ferreira, autor das acusações, neste momento não merece crédito. "Há uma acusação de uma pessoa que tem se mostrado desqualificada na denúncia", disse Gilberto Carvalho que também considerou que não há, até agora, provas contra Orlando Silva.

O ministro lembrou que qualquer decisão sobre o futuro do Ministério dos Esportes será tomada exclusivamente pela presidenta Dilma, que mesmo em sua viagem pela África acompanhou com atenção todos os acontecimentos. "Ela [Dilma] tomará essa decisão com muita serenidade. É preciso pensar que há um ser humano, e um governo que é sério", disse.

Gilberto Carvalho disse ainda que o governo se preocupa com a imagem internacional do país devido as ações de organização da Copa do Mundo de 2014. "Cada crise tem sua face", disse o ministro. No entanto, Gilberto Carvalho ressaltou que as posições tomadas pelo ministro do Esporte até agora, são posições do governo.


VALOR 21/10/2011

 Quanto mais pobre o cidadão, mais impostos
  
"Winston Churchil dizia que imposto sobre a herança era infalível para evitar proliferação de "ricos indolentes", lembra Odilon Guedes, mestre em economia pela PUC/SP, professor universitário e membro do Conselho Regional de Economia-SP, ex-presidente do Sindicato dos Economistas no Estado de São Paulo, vereador e subprefeito de São Paulo, em artigo publicado no jornal Valor, 21-10-2011.

Ele também informa que "Quando da morte da princesa Diana, em 1997, os jornais noticiaram que o fisco inglês cobrou de sua herança o imposto de US$ 15 milhões, metade dos US$ 30 milhões deixados para seus filhos. Naquele país, a taxação é apoiada até mesmo pelos conservadores".

Eis o artigo.

A partir da declaração do megainvestidor americano Warren Buffett, a terceira maior fortuna do mundo, pedindo aumento dos impostos para os mais ricos nos Estados Unidos, vários milionários europeus também passaram a defender essa medida naquele continente. Nesse contexto, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, encaminhou ao Parlamento proposta para que os ricos que tenham renda anual acima de € 500 mil passem a pagar uma sobretaxa provisória de 3%.

Esse fato é um bom motivo para discutirmos a carga tributária brasileira, já que nosso país é um dos mais injustos do planeta na cobrança da tributação. Os mais pobres são quem paga, proporcionalmente, mais tributos no Brasil, e não os ricos.

Nesse contexto, é importante lembrar que há um projeto de reforma tributária na Câmara dos Deputados que permanece "adormecido", aliás, como ocorreu com todos os outros elaborados nos últimos anos no Brasil. O debate em torno desse assunto no país acaba centrado em grande parte no aspecto da diminuição dos impostos porque a carga tributária é alta em relação aos serviços que o Estado oferece. Os que mais defendem a diminuição dessa carga são os empresários, baseados no argumento de que pagando muitos impostos seus negócios são dificultados. Fica praticamente excluída do debate a maioria da população brasileira e, principalmente, sua camada mais pobre - proporcionalmente a que paga mais impostos -, que não tem a menor ideia de quanto eles pesam no seu bolso.

Estudos desenvolvidos pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) comprovam claramente tal situação. Segundo um levantamento de 2008, pessoas cuja renda mensal familiar alcançava até dois salários mínimos comprometiam 53,9% de seus ganhos com o pagamento de tributos, enquanto que outras, com renda superior a 30 salários mínimos, comprometiam apenas 29%.

Outro dado de destaque nesse estudo do Ipea: um trabalhador que recebia até dois salários mínimos precisava trabalhar 197 dias para pagar os tributos, enquanto outro que ganhava mais de 30 precisava de três meses a menos de trabalho, ou exatos 106 dias.

Essa situação ocorre porque cerca de 50% da nossa carga tributária é indireta, isto é, incide sobre o consumo, atingindo indiscriminadamente toda a população, independentemente da renda e da riqueza de cada um. A cobrança da maioria dos tributos vem embutida no preço final das mercadorias. Vejamos um exemplo significativo:

Um cidadão que ganha R$ 1 mil por mês e coloca R$ 100 de gasolina no tanque do seu carro está pagando R$ 53 de impostos. Enquanto outro que ganha R$ 30 mil e abastece o tanque pelo mesmo valor também paga os mesmos R$ 53, levando isso à injustiça apontada.

Nos países capitalistas desenvolvidos, ao contrário daqui, a maior parte da carga tributária é direta e recai sobre a renda, a riqueza, a propriedade e a herança. Esses critérios são mais justos do que os existentes no Brasil porque tributa diretamente quem ganha mais e tem melhores condições de pagamento.

Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos Estados Unidos a renda é responsável por 49% da carga tributária. Se comparado com o Brasil, que é de 19%, naquele país é 150% maior que a nossa. A média desse tributo nos países pertencentes à OCDE é de 37%, quase 50% maior que a brasileira.

Sobre a propriedade a carga americana é 10%, cerca de três vezes maior que a brasileira, que é de 3%. Na OCDE a média desse tributo é 6%, o dobro da nossa. Em relação ao consumo, ocorre justamente o inverso. Enquanto na carga tributária brasileira esse tipo de tributos representa em torno de 47%, na americana representam 16% e na OCDE ela representa na média, 37% do total. Esses dados confirmam que nos países desenvolvidos há muito mais justiça tributária que no Brasil.

Dois exemplos ilustram as diferenças entre aqueles países e o Brasil. Na Inglaterra, por exemplo, o imposto sobre a herança é cobrado há mais de 300 anos. Quando da morte da princesa Diana, em 1997, os jornais noticiaram que o fisco inglês cobrou de sua herança o imposto de US$ 15 milhões, metade dos US$ 30 milhões deixados para seus filhos. Naquele país, a taxação é apoiada até mesmo pelos conservadores. Segundo matéria da revista "Veja", publicada em setembro de 2007, o primeiro-ministro inglês Winston Churchil, que conduziu a Inglaterra na luta contra os nazistas, costumava dizer que o imposto sobre a herança era infalível para evitar a proliferação de "ricos indolentes". Por outro lado, no Brasil, o Imposto Territorial Rural - ITR arrecadado em todo o ano de 2007 e em todo território nacional, foi menor do que dois meses de arrecadação do IPTU da cidade de São Paulo. Esses dados falam por si.

Não há dúvida que esse é um tema delicado e já causou ou foi pretexto para inúmeras revoluções. Dois exemplos são significativos. A data nacional da independência americana, 4 de julho, faz lembrar que uma das razões que foram amadurecendo para o início da guerra de libertação foi a cobrança de impostos como o Sugar Act (1764), do Stamp Act (1765) e o Tea Act (Lei do Chá, 1773). No Brasil, a Inconfidência Mineira, tentativa de libertar o Brasil de Portugal, que resultou no enforcamento do herói Tiradentes e no desterro das lideranças envolvidas no movimento, teve como motivo principal da revolta a "derrama", isto é, a cobrança de impostos atrasados feita pelos colonizadores portugueses aos moradores de Minas Gerais.

Diante dessa realidade, é necessário e urgente abrir um espaço na mídia e na sociedade brasileira para discutir a enorme injustiça que há entre nós e, consequentemente a necessidade de aprovação de uma reforma em que os tributos diretos pesem mais que os tributos indiretos na composição da carga tributária. Isso significaria uma das formas mais importantes de redistribuir a renda entre nós.

Finalmente cabe uma pergunta: por que no Brasil os banqueiros, grande empresários do agronegócio, das empresas nacionais e multinacionais, não tomam a iniciativa que foi tomada pelos ricos nos EUA e na Europa, isto é, propõem uma sobretaxa sobre seus ganhos?




 Para Genoino, Comissão da Verdade passará sem emendas
 Por Rodrigo Pedroso
 
Depois de ser integralmente aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), o projeto de criação da Comissão Nacional da Verdade deve passar sem emendas pela Casa. Essa é a visão do assessor especial do Ministério da Justiça José Genoino. "Esse é um acordo suprapartidário, que está bem costurado. Ele vai ser aprovado sem nenhuma emenda", afirmou o ex-deputado federal.

Na terça-feira, senadores que estiveram na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) queriam mudar o texto original. Sugeriam, por exemplo, excluir a referência à Lei da Anistia, para permitir que acusados de violação de direitos humanos sejam punidos, aumentar o número de integrantes da comissão, e fixar em 1964 o início da investigação. No texto original, a investigação se inicia em 1946.

Se o pedido de urgência do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), for acatado, o projeto não passará pelas demais comissões e vai direto para o plenário. É lá que os parlamentares pretendem emendar o projeto que é relatado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira, de oposição, mas completamente afinado com o governo na matéria.

Além disso, as críticas dos senadores ao projeto foram consideradas "improcedentes" pelo ex-deputado. "A comissão vai ter dois anos de trabalhos, todo mundo será ouvido. Não vejo problemas em ter integrantes das Forças Armadas na comissão. Vai poder se falar de tudo", disse.

Enquanto explicava que o projeto foi debatido com senadores e deputados, Genoino, que estava em um seminário sobre a indústria da defesa, em São Bernardo do Campo, São Paulo, foi interrompido por um oficial das Forças Armadas. O oficial gostaria que a Comissão da Verdade fosse citada na fala do ex-deputado para os empresários presentes no local. Segundo ele, a comissão é um meio de a sociedade "perder a última barreira de preconceito contra os militares".

O texto da Comissão da Verdade, aprovado na Câmara, determina que se busquem esclarecer os casos de torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres e suas autorias durante a ditadura militar. O colegiado, composto por sete membros, poderá solicitar documentos, convocar depoimentos, determinar a realização de perícias e diligências em busca de informações e documentos. O projeto obriga servidores públicos e militares a colaborar com a comissão, ponto que gerou polêmica entre as Forças Armadas.

 
 
   Nos EUA, exportar lixo é negócio 'multimilionário'

 
A exportação de produtos usados, incluindo itens hospitalares, movimenta um mercado "multimilionário" nos Estados Unidos, disse ontem em Recife a consulesa americana para a região Nordeste do Brasil, Usha Pitts. Um dia após solicitar o auxílio do FBI nas investigações sobre o envio de lixo hospitalar para o Brasil, a diplomata tratou o episódio como fato isolado, e disse que é prematura qualquer opinião sobre a legalidade da operação.

Segundo ela, empresas americanas, "em geral idôneas", exportam milhões de dólares em produtos usados "para o mundo todo". A legislação brasileira proíbe a importação de mercadorias usadas, salvo em casos especiais. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento (Mdic) o empresário que quiser importar um produto usado precisa de uma licença especial.

Na semana passada, a Receita Federal apreendeu no porto de Suape, na grande Recife, dois contêineres com lixo hospitalar, importados dos EUA por uma empresa do município pernambucano de Santa Cruz do Capibaribe.

  


FOLHA DE SÃO PAULO 21/10/2011

Índios recusam proposta da Funai e mantêm reféns em MT

Índios que fazem reféns funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) e da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em Mato Grosso recusaram proposta de negociação feita pela Funai.

Eles ameaçam levar os reféns para uma área mais distante, caso a questão não se resolva.

O protesto é realizado por três etnias indígenas: caiabi, apiacá e mundurucu. Eles criticam o projeto da hidrelétrica de São Manoel, prevista para ser instalada no rio Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará.

A principal reivindicação é que seja feita a demarcação do território indígena dos caiabis.

Desde a última segunda-feira (17), cinco funcionários da Funai e dois da EPE são feitos reféns na aldeia dos índios caiabis. O local é próximo ao município de Colíder, no norte de Mato Grosso (a 634 km de Cuiabá).

Eles estavam lá justamente para apresentar aos índios o projeto da hidrelétrica.

A Funai propôs ontem que os índios formassem uma comissão para ir a Brasília discutir a demarcação de terra e a questão da hidrelétrica.

Hoje, porém, eles recusaram essa proposta e exigem a presença do presidente da Funai, Márcio Meira, e de integrantes das procuradorias de Mato Grosso e do Pará.

Os índios disseram à coordenação regional da Funai em Colíder que, caso demore a solução do impasse, levarão os reféns à aldeia dos mundurucus, que fica no oeste do Pará, nas proximidades do rio Tapajós. A distância até o local é de cerca de 900 km.

A Funai irá discutir a questão ainda hoje em reunião com o Ministério da Justiça, quando deverá ser pensada outra proposta para retomar as negociações.
  


Procuradoria tenta barrar abertura de ponte que Dilma vai inaugurar
Por Kátia Brasil

O Ministério Público Federal do Amazonas pediu nesta quinta-feira (20) à Justiça Federal a suspensão da abertura da ponte sobre o rio Negro --obra de R$ 1 bilhão que será inaugurada pela presidente Dilma Rousseff no próximo dia 24, em Manaus.

Os procuradores afirmam que o início das operações da obra é "altamente temerário" porque o governo do Amazonas não cumpriu medidas compensatórias de impactos da obra sobre florestais intocadas, sítios arqueológicos e terras indígenas, que ficam nos municípios de Manaus, Iranduba e Novo Airão.

O Palácio do Planalto confirmou a presença da presidente Dilma na inauguração da ponte, obra mais importante das administrações do ex-governador e atual senador Eduardo Braga (PMDB) e do governador Omar Aziz (PSD).

Com 3,5 quilômetros, a ponte sobre o rio Negro começou a ser construída em 2008. A obra recebeu um financiamento de R$ 572 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Em 2009, o governo estadual firmou um TC (Termo de Conciliação) com a Justiça Federal e a Advogacia-Geral da União para cumprir as medidas compensatórias, entre elas, a abertura de um posto de fiscalização ambiental na entroncamento das duas margens do rio Negro.

O procurador federal Thales Cardoso, que assina a ação com os colegas Athayde Costa e Alexandre Senra, afirma que, durante as obras, já foram constatadas violações ao patrimônio arqueológico, desmatamentos e ocupação ilegal na margem direita do rio Negro.

"O que nos causa muita estranheza é o Estado do Amazonas finalizar um obra bilionária e não terminar nem mesmo um posto de fiscalização. Essa situação não aceitamos", afirmou Cardoso.

Em outra ação, os procuradores questionam o custo da obra da ponte, que recebeu aditivos de mais de 60%, contrariando a Lei de Licitações. Para os procuradores federais há suspeitas de falhas no projeto da obra.

"A ponte sobre o rio Negro é uma nefasta experiência que ocasionou aditivos contratuais ilícitos por deficiência de projetos e onerou em mais de 90% o valor da obra originalmente contratada", afirmam, no pedido à Justiça, os procuradores Athayde Costa e Thales Cardoso.

OUTRO LADO

A assessoria de imprensa do governo do Amazonas informou que é a Procuradoria-Geral do Estado o órgão responsável para falar sobre o Termo de Conciliação da obra.

O procurador destacado para atender a reportagem estava em reunião e não falou com a Folha.





ESTADÃO 21/10/2011

Sem Kadafi, nasce a 'Líbia livre'
Por   Andrei Netto, enviado especial a TRÍPOLI

De forma sangrenta e nebulosa, a Líbia encerrou nesta quinta-feira, 20, os 42 anos de Muamar Kadafi na cena política do país. Em circunstâncias ainda não esclarecidas, o ditador foi morto durante a fuga de seu comboio de sua cidade natal, Sirte, último reduto do antigo regime.


Imagens filmadas por um cinegrafista amador mostram o "coronel" ferido, mas ainda vivo, antes de ser declarado morto pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), o órgão máximo do movimento rebelde. Quase indiferente às suspeitas de uma execução sumária, multidões festejaram nas ruas de Trípoli o que consideram ser a "Líbia livre".

O cerco a Sirte, cidade de 100 mil habitantes a 450 quilômetros da capital, já se prolongava por um mês. Nas últimas horas, porém, o rebeldes avançaram ao chamado Setor 2, ou Dollar, o coração da cidade. Segundo autoridades do CNT ouvidas pelo Estado na quarta-feira, em Trípoli, esperava-se que "cinco ou seis ‘personalidades’ do regime" estivessem cercadas na região.

Às 8h30, Kadafi e líderes do regime, como seu filho Moutassin e o ex-ministro da Defesa, Abu Bakr Yunis Jabar, fugiam do centro da cidade num comboio quando foram interceptados por um bombardeio de aviões de França e Estados Unidos, sob o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Por terra, os rebeldes alcançaram os veículos. Imagens amadoras gravadas e divulgadas no YouTube mostram os últimos instantes de vida do ditador. Ferido e debilitado - após ser retirado de uma tubulação de esgoto, segundo a rede de TV CNN -, Kadafi é cercado de guerrilheiros, que gritam "Allah u akbar (Deus é maior)".

A notícia da prisão espalhou-se então por todo o país. Por volta de 11h, os primeiros gritos e disparos de comemoração começaram em Trípoli. Por volta de 12h30min, a morte de Kadafi foi anunciada por Abdelhakim Belhadj, chefe militar do CNT - confirmação sucedida de uma foto do ditador ensanguentado. No momento em que as imagens foram mostradas pelas emissoras de TV árabes, uma explosão de festa tomou Trípoli e multidões foram às ruas portando armas e bandeiras da nova Líbia.

Em meio à celebração, no Hotel Radisson Blu - uma das sedes do governo provisório -, Mahmoud Jibril, primeiro-ministro do CNT, confirmou a morte do ditador, mas não as circunstâncias de sua execução. "Esperávamos este momento há muito tempo. Muamar Kadafi está morto", disse, completando, em tom conformista: "Eu gostaria de tê-lo capturado vivo. Mas ele está morto". Questionado pelo Estado após seu pronunciamento, Jibril não explicou as circunstâncias da morte. "Não posso garantir que ele não tenha sido morto em um ataque aéreo", reafirmou. À noite, o premiê disse que o ex-líder morreu em consequências de ferimentos durante uma troca de tiros entre forças do CNT e kadafistas.

Instantes depois, o ministro das Finanças e do Petróleo do CNT, Ali Tarhouni, informou que Kadafi não havia morrido no bombardeio. "Até onde sabemos, ele não foi morto no ataque aéreo. Foi durante choque com os rebeldes de Misrata", afirmou. Ao longo do dia, rumores sobre um jovem que teria assassinado o ditador com um tiro de pistola Browning Hi Power 9mm, dourada, pertencente ao arsenal de Kadafi, circulavam pelo país.

Alheia às dúvidas, a multidão se jogou às ruas de Trípoli e outras grandes cidades do país para comemorar o que muitos consideram o fim da revolução armada iniciada em 17 de fevereiro de 2010, que teria deixado cerca de 25 mil mortos no país. A morte também põe fim a 42 anos de protagonismo de Kadafi e sua família na cena política da África e do Oriente Médio. Determinado a virar a página da história, o CNT informou que a produção de petróleo começa a ser restabelecida no país. Antes do conflito interno, a Líbia produzia 1,6 milhão de barris por dia. Atualmente, a produção seria de 350 mil barris.


Comissão da Verdade já tem listas de nomes
Por Roldão Arruda


A presidente Dilma Rousseff tem insistido com seus assessores para que não alimentem especulações sobre os prováveis integrantes da futura Comissão da Verdade. O assunto está proibido, segundo um dos encarregados das articulações políticas no Senado, onde tramita o projeto de lei que cria a comissão. Apesar disso, circulam nos bastidores listas com nomes de possíveis integrantes do grupo. Também estão em curso campanhas a favor deste ou daquele nome.

De acordo com o texto do projeto, a comissão terá sete integrantes, “designados pelo presidente da República, dentre brasileiros de reconhecida idoneidade e conduta ética”. Para especialistas em direitos humanos, a escolha desses nomes será decisiva para garantir a efetividade ou não da comissão.

Até agora, um dos nomes mais repetidos é o do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, que atua como assessor da ONU, tendo sido indicado, recentemente, para integrar a comissão que investigará violações de direitos humanos na Síria. O maior cacife do diplomata de 67 anos, porém, está relacionado à política local: ele transita com tranquilidade entre tucanos e petistas. Em janeiro de 2010, Pinheiro foi chamado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar na preparação da proposta que resultou no projeto de lei que tramita no Congresso.

Outro nome mencionado com frequência é o do tucano José Gregori, de 81 anos, atual secretário de Direitos Humanos de São Paulo. Jurista, amigo do ex-cardeal Paulo Evaristo Arns, ele presidiu a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo na ditadura. No governo de Fernando Henrique Cardoso, atuou à frente do Secretaria de Direitos Humanos e do Ministério da Justiça.

Além de experiência e bons padrinhos, Pinheiro e Gregori têm a vantagem de não enfrentarem resistências entre parentes de mortos e desaparecidos políticos. A maior preocupação nesse meio é evitar que pessoas ligadas ao regime, militares ou não, integrem a comissão.

Outras opções. As especulações também incluem o nome do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e atual presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, José Paulo Sepúlveda Pertence. A lista inclui ainda os advogados Sigmaringa Seixas, ex-deputado que se notabilizou como defensor de presos políticos no período da ditadura, e Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça. Pesa contra eles o fato de integrarem o círculo de consultores mais próximos de Lula. Se fossem indicados, a comissão teria mais identificação com o governo passado do que com o atual.



Outro dois militantes da defesa de direitos humanos que aparecem nas listas são José Carlos Dias e Antonio Modesto da Silveira. Entre os nomes de mulheres, aparecem os de Sylvia Steiner, Eny Raimundo Pereira e Flávia Piovesan.

Sylvia atua na Corte Penal Internacional, em Haia, na Holanda. Eny, advogada carioca, é festejada pelas entidades de direitos humanos como uma das idealizadoras do projeto Brasil: Nunca Mais, produzido pela Arquidiocese de São Paulo.

Professora de direito constitucional na PUC-SP, Flávia Piovesan aparece na lista de prováveis indicadas para a vaga de Ellen Gracie, no Supremo. Procuradora do Estado de São Paulo, ela também tem sido consultada pela ONU a respeito de direitos humanos.

O nome do ex-ministro Paulo Vannuchi também é citado. Para algumas entidades de direitos humanos, seria o coroamento de seu trabalho à frente da Secretaria de Direitos Humanos, sem o qual teria sido impossível a estruturação do projeto da comissão. Suas chances, porém, são reduzidas: ele defendeu a luta armada contra o regime militar, foi preso, torturado e condenado.


''A flagrante discriminação da mulher na Igreja é um escândalo''. Entrevista com Teresa Forcades


Médica, teóloga e monja de clausura. A beneditina do mosteiro de St. Benet de Montserrat Teresa Forcades, entretanto, é conhecida em todo o mundo. Um vídeo no youtube contra as multinacionais e a armação da gripe A, catapultou-a para a fama.
Entrevistei-a em Madri, no dia 07 de outubro, por ocasião da apresentação do seu livro A teologia feminista na História. Irmã Teresa afirma que a situação de marginalização da mulher na Igreja é “um escândalo” e que “nenhum Papa se atreveu a proibir ex-cathedra o sacerdócio feminino”. Mas também reconhece que é na Igreja e em seu mosteiro onde se sente mais respeitada como mulher.
A entrevista foi concedida à José Manuel Vidal e publicada pelo Religión Digital, 23-10-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Por que uma monja da clausura como você escreveu um livro sobre a ‘Teologia feminista na História’?

O livro foi uma proposta da editora Fragmenta. E propuseram porque sabiam que me formei com a teóloga Elizabeth Schüssler Fiorenza. Conheci-a em Barcelona em 1992, antes das Olimpíadas. Eu iria estudar nos Estados Unidos, especializar-me em medicina. Ela vinha de Harvard e fez uma conferência. Uma conferência na qual se rompeu a comunicação porque a tradutora que sabia muito inglês, não sabia nada de teologia. Ajudei na tradução do inglês para o catalão e se salvou a situação. Elizabeth ficou encantada e me convidou a visitá-la em Harvard. Ao final, foi ela que acabou vindo a Buffalo, no norte do Estado de Nova York, onde estava em meu hospital, para dar outra conferência.
E foi novamente a tradutora espontânea?
Fui a sua conferência, onde não precisei traduzir, e voltamos a nos encontrar. E, como consequência, comecei a traduzir um dos seus livros ao catalão, seu livro de hermenêutica bíblica feminista. Gostei muito do livro e o traduzi para aprofundar o conteúdo. Quando acabei a tradução, fui conversar algumas vezes com Schüssler Fiorenza, para falar de minhas dúvidas e reflexões. Ela, à vista de como recebeu, entendeu e processou o seu livro, animou-me a estudar Teologia e escreveu uma carta recomendando-me estudar em Harvard.
Um percurso que a editora conhecia.
Efetivamente, além disso, havia dado umas conferências sobre teologia feminista em Barcelona. E quando a editora lançou essa coleção de livros breves, introdutórios, que pudéssem servir de manual nas Universidades para introduzir uma disciplina teológica, me pediram o livro que eu aceitei como muito gosto.
Com teóloga feminista lhe magoa especialmenta a atual situação da mulher na Igreja?
A situação da mulher na Igreja tem uma história complexa que inclui tanto a discriminação quanto a promoção. A discriminação magoa qualquer pessoa que seja a favor da justiça e que compreenda que o Evangelho implica crescimento humano em todos os níveis. No Evangelho, se aprende também o realismo de saber que quando uma pessoa tenta viver a mensagem de Jesus, fica à margem. Nesse sentido, a situação das mulheres é testemunho de que há verdades cujo lugar estará sempre à margem até a escatologia final.
Ou seja, que você se sente preparada para continuar na margem ou na fronteira e sem aspirar ao altar.
A dinâmica da margem evangélica consiste, a meu juízo, na promoção da justiça em todos os níveis, mas com o realismo de saber que, quando se consegue um passo a frente, se gera um processo no qual aquele que não quer ficar acomodado continuará encontrando razões para continuar caminhando até as margens. Daí minha defesa teológica das margens.
E a proibição da presença feminina no altar?
A conclusão da comissão bíblica pontifícia, a que Paulo VI pediu que estudasse o tema, foi de que não há razão bíblica alguma para privar o acesso das mulheres ao ministério ordenado. Isso foi no ano de 1976. Em 1974, realizaram-se as primeiras ordenações de mulheres na Igreja episcopaliana. Paulo VI percebeu que iria se produzir a mesma demanda na Igreja Católica e, por isso, pediu para a comissão pontifícia que estudasse o tema.
O que diz de concreto o documento da comissão pontifícia?
Assegura que nas Escrituras não há nada contra. Depois de conhecer as conclusões da comissão, Paulo VI publicou um motu proprio no qual considerava que não se devia ordenar mulheres na Igreja Católica.
Mais a frente veio a tentativa de fechamento definitivo da questão por parte de João Paulo II.
Sim, mas nenhum Papa se atreveu a proclamar essa proibição ex-cathedra.
Esta flagrante discriminação da mulher na Igreja é um escândalo?
Sim. Recomento a quem queira aprofundar esse tema o livro de Gary Macy A história oculta da ordenação das mulheres.
E como se vive essa situação num momento em que a sociedade civil avança na paridade de direitos?
Não gosto do esquema em que se coloca a sociedade civil na vanguarda e a Igreja na retaguarda em algo que deveria ser a pioneira. Entendo que a situação entre homem e mulher e a maneira de conceber o feminino e o masculino numa sociedade contemporânea ocidental deixa muito de ser satisfatória. O que mais me interessa debater teologicamente atualmente são as teorias de Lacan e de alguns pós-estruturalistas contemporâneos. Porque, no momento e reconhecendo que podem existir outras pessoas que tenham vivido experiência contrária, particularmente onde me senti mais respeitada em meu ser mulher é na Igreja e, em concreto, no meu mosteiro. Em comparação com outros lugares, como pode ser no hospital ou na Universidade, fico com o mosteiro, como espaço de liberdade e respeito. Em minha relação com os monges de Montserrat, por exemplo, descobri possibilidades de interação mais ricas do que em geral que vivi e observei entre homens e mulheres que são colegas no hospital ou na universidade.
Então, a Igreja não tão anti-feminina como se diz.
Veja, é preciso começar a falar desse tema com verdade, porque, do contrário, parece que temos de um lado uma sociedade liberada, oásis ou meca para as mulheres e, por outro, a Igreja que é uma instituição de opressão e de desastre. Minha experiência diz o contrário. Porque, se assim não fosse, quem sabe eu já não estaria aqui.
Quer dizer que há um espaço de liberdade enorme dentro da Igreja apesar de tudo?
Sempre houve. O que acontece é que também é preciso denunciar que, entre os quadros de mando da Igreja há uma falta absoluta de representação das mulheres. E é esse o escândalo de que falamos.
Liberdade para as mulheres na Igreja-povo de Deus e falta de representatividade na sua hierarquia.
Temos que mudar essa noção de Igreja que olha primeiro para cima. Para falar da Igreja, temos primeiro que olhar para baixo. E embaixo encontramos fundadoras iniciativas que não tem correlato no mundo civil, ao menos até agora. Vamos ver o que acontece no século XXI.
Acusam-lhe de heresias, os setores mais conservadores e alguns sites. Tem medo?
Lembro da “perfeita alegria” de São Francisco e acredito que o essencial para um cristão é saber que quando todos te aplaudem, alguma coisa não vai bem. Desatar iras de certos setores, por outro lado, não é garantia de que as coisas vão bem, mas é um pouco melhor de quando todos te aplaudem.
A Igreja hierárquica espanhola está muito fechada em si mesma e exerce um excessivo controle?
Está claro que, desde o Vaticano II, houve uma involução. E, na igreja espanhola se pode constatar que o medo existe e que há falta de liberdade para falar com vozes diferentes que é o que acontece quando as pessoas falam a partir de sua experiência. Essa uniformidade de expressão é muito preocupante.
Falta pluralismo na Igreja espanhola. Ou dito de outra forma, são capazes os bispos espanhóis de assumir que há diferentes modelos ou diferentes sensibilidades eclesiais e que todas são válidas?
Há muitos bispos que são capazes. O problema é que não é apenas questão de aceitar isso, mas sim de vivê-lo. Os bispos tem o dever-direito de exercer sua responsabilidade pastoral de acordo com sua propria consciência, não podem simplesmente suprir seu critério com o critério que vem desde cima. Nesse sentido, o bispo não apenas aceita a pluralidade, mas também se converte em gerador da mesma e a vive.
Você é religiosa beneditina. A vida religiosa tem futuro ou terminou o seu tempo. Como a vê?
A vejo muito bem. A vida religiosa tem mudado ao longo da história e apenas terá futuro se continuar mudando. A mudança é inerente à vida religiosa e apenas quem não muda tende a desaparecer. As beneditinas estão acabando, mas esses espaços de comunidade de pessoas que entendem que suas vidas não se plenificam em uma vida de casal, sem a relação de comunidade sempre existirão. Porque, além disso, são pessoas que dão testemunho de que esse é o modelo para todos no mundo escatológico.
A vida religiosa como antecipação da vida celestial.
Esta é a antropologia cristã. A vida de casal é sacramento do mesmo amor de Deus, mas é de uma forma temporal. A vida de comunidade é de forma escatológica, porque Deus nos chama a ser pessoas que compreendam que a relação com toda humanidade, com todas e todos aqueles criados a imagem de Deus, é uma relação de amor absoluto, uma relação de dar e receber como a da Trindade. Esta vida de comunhão trinitária é que a utopia cristã nos propõe.
Mas isso também se pode viver no matrimônio: estar aberto a todos e amar a todos.
Claro, mas o matrimônio é até que a morte nos separe. E por isso dizia Jesus: “Não compreendem”. Porque, no céu, as pessoas não se casam.
Seu vídeo de 2009, denunciando a montagem da famosa gripe A, teve tanta repercussão porque desmontava a superficialidade na qual se movem os grandes poderes da informação num mundo globalizado?
É preciso ser claro na crítica a este desastre da sociedade contemporânea que é o aumento da desigualdade riqueza-pobreza nos últimos 50 anos. Esse é um escândalo muito maior que a injustiça com as mulheres na Igreja da que acabamos de falar, ainda que não haja muito sentido em comparar injustiças, porque cada uma é absoluta em si mesma. Há muito o que criticar na sociedade contemporânea, mas não como um slogan. Porque se é certo que existe essa superficialidade, também é fato de que, pela primeiva vez, há pessoas que realmente acreditam que não se deve esperar que a solução venha de cima.
É o que vemos nessa crescente indignação em todos os lugares, incluindo no mundo árabe?
Estou muito preocupada pelo o que está acontecendo na Líbia, na Síria. Ou pelo que possa vir acontecer no Irã. Especialmente a partir da perspectiva das grandes mentiras políticas. Já o fizeram duas vezes, mas parece que não aprendemos. Aconteceu no Iraque e depois lamentamos. E com Gadafi creio que aconteceu o mesmo. Mente-se para justificar a intervenção militar. Por que não intervimos na Arábia Saudita para liberar as mulhres se o fazemos no Afeganistão?
Gostaria que o Papa fosse à Somália num gesto profético que detivésse ou interrompesse a morte de tantas pessoas e tantas crianças inocentes?
Esse pode ser outro desses slogans de que desejaria afastar-me. Quem sabe agora, quando todo mundo está olhando a Somália, gostaria que o Papa fosse a outra parte. Porque os desastres proliferam. Por exemplo, o que está acontecendo no Sudão?
Os meios de comunicação nos enganam?
Tenho a impressão, confirmada no caso da gripe A, de que outro, dos maiores escândalos atuais é a falta de liberdade no mundo da informação. Há mais liberdade jornalísitca em Periodista Digital ou em Vida Nueva do que no El País ou no La Vanguardia.
Voltamos ao lugar de onde começamos: na Igreja se vive melhor.
Não gostaria de morder a língua na hora de criticar o condenável da Igreja, mas ninguém me peça que diga que na sociedade civil há maior liberdade de que na Igreja, porque não é certo. O que não quer dizer que a Igreja não tenha nada a aprender com a sociedade não eclesial. O que fez sempre.
Participou ou viu a JMJ? O que lhe parece esse tipo de evento?
Não vi muito. Participaram três irmãs mais jovens do mosteiro e voltaram muito contentes. O evento macro-eclesial quem sabe seja um sinal dos tempos. Assisti na Venezuela a um desses eventos macro por motivo do aniversário de 90 anos da morte de monsenhor Romero e me pareceu algo extraordinário. O mesmo pode acontecer com as pessoas que foram ver o Papa. Esses grandes eventos eclesiais quem sabe sejam um sinal dos tempos de século XXI. O importante é o tipo de mensagem que com eles se transmite e como se utilizam esses espaços.
E como o utilizaram na JMJ?
Creio que houve um predomínio de articulações conservadoras ou de mensagens para os jovens no esquema nós-eles (Igreja-Sociedade), mas também houve espaços onde se pode partilhar a fé com uma visão mais aberta.
Tem esperança no futuro da sociedade e da Igreja? É você uma mulher esperançosa?
Sim.
Por exemplo, poderemos ver uma mudança na Igreja a curto prazo?
Mais do que a curto prazo, hoje mesmo. Gostaria de ter sobre a realidade o olhar que Jesus nos pede. Um olhar de que os campos estão dourados ou maduros e apenas faltam os ceifadores. Esse olhar que vê, como diz São Paulo, que o mundo está grávido de Deus. Ou, inclusive já de parto e em lugares onde ninguém espera. Isso é o que dá esperança.
Para ler mais: